
À conversa com o Oeiras Valley, a Diretora-Geral da Atlântica – Instituto Universitário, Natália do Espírito Santo, destacou o papel da instituição na implementação de projetos pioneiros na área da educação em Portugal. No decorrer da conversa, foi ainda abordado o papel decisivo do Município de Oeiras na concretização e dinamização da Atlântica.
Leia a entrevista e conheça os principais trabalhos desenvolvidos pela Atlântica – Instituto Universitário na promoção da educação a nível nacional e internacional, com destaque para as áreas da engenharia, aeronáutica, proteção civil e saúde.
Natália do Espírito Santo destacou ainda o papel da Atlântica na investigação e na promoção de campanhas de sensibilização e promoção da saúde, nomeadamente na prevenção à Covid-19 e campanhas relacionadas com responsabilidade social, nomeadamente o apoio prestado pelo Instituto às famílias ucranianas em Oeiras.
Encontramo-nos na Atlântica – Instituto Universitário, uma entidade que se destaca nas áreas da Engenharia, Ciências Empresariais, Saúde e Tecnologias de Informação e Comunicação. Desde a sua criação, em 1996, quais os principais feitos que destaca no âmbito dos trabalhos desenvolvidos pelo Instituto?
Tenho quase 26 anos de histórias para contar na Atlântica. Mas, em termos de marcos mais importantes, assinalo a criação do Departamento das Engenharias, com Aeronáutica, Engenharia Mecânica e Engenharia de Materiais, que veio impulsionar a área tecnológica neste espaço – já de si com áreas tão importantes como a gestão de sistemas e tecnologias de informação. Mas não só. A área da saúde e a área da proteção civil, um dos cursos mais recentes, são também marcos assinaláveis. E isto é apenas o período mais recente. Ao todo, teria de contar aqui mais de duas décadas de história.
Quais são os fatores diferenciadores da Atlântica em comparação com outras instituições de ensino que trabalham as mesmas áreas de estudo e de investigação?
Há pelo menos um, que é uma mais-valia incrível: este espaço, o Campus da Atlântica. No total, são quase 2 hectares, fruto também da parceria existente com a Câmara Municipal de Oeiras. São quase 26 anos neste espaço fantástico que é a Fábrica da Pólvora de Barcarena. Um património histórico e cultural, todo ele reabilitado para museus, espaços de lazer e para a Atlântica. Este é realmente um campus ótimo para estudar, para lazer, mas é, sobretudo, um espaço onde é possível ter as melhores condições para a investigação, para estudar e para trabalhar também.
“Costumamos dizer que não queremos “cursos de papel e lápis”, que nos preocupamos sempre com o mercado de trabalho, com a empregabilidade. E essa é uma das questões mais importantes. Em todos os nossos cursos, temos tido sempre mais de 90 % de taxa de empregabilidade.“
Relativamente aos cursos, a oferta que temos dispõe de uma componente prática e técnica, virada para as empresas e para o mercado de trabalho. E essa foi sempre uma preocupação dos mentores, reitores e presidentes que por aqui passaram. Costumamos dizer que não queremos “cursos de papel e lápis”, que nos preocupamos sempre com o mercado de trabalho, com a empregabilidade. E essa é uma das questões mais importantes. Em todos os nossos cursos, temos tido sempre mais de 90 % de taxa de empregabilidade, o que é muito bom. Claro que em áreas como a Enfermagem, a taxa chega a 100%. E o mesmo acontece com outras áreas, que dão respostas inovadoras às necessidades das empresas, da indústria e das unidades de saúde. Essa tem sido, portanto, uma grande preocupação da Atlântica.
Pode descrever alguns dos principais projetos em desenvolvimento na Atlântica?
Na área da saúde temos a Escola Superior de Saúde Atlântica com Enfermagem, Fisioterapia e Osteopatia. Temos ainda a área de Nutrição, embora esta esteja no Instituto Universitário. Estas são áreas com investigação. Têm licenciaturas – e agora também mestrados – e projetos em volta da prestação de serviços à comunidade. Existe uma intensa ligação com a comunidade, com o Município, mas também com várias entidades e organismos locais e regionais. Temos também aqui a Clínica Universitária, que permite prestar apoio e cuidados aos utentes e residentes que vivem no concelho, de forma quase gratuita em Osteopatia ou por uma quantia simbólica nas outras valências. Isto é interessante não só para os nossos alunos, que podem fazer estágios, mas também para a comunidade, no geral.
Possuímos ainda várias atividades e projetos com a Comissão Municipal de Saúde de Oeiras e com a vereação com os pelouros da ação social e da saúde. Temos um projeto financiado PT2020, o BE4YOU, no qual criámos uma plataforma online que vai permitir dar apoio a pessoas com patologias como a diabetes, colesterol, entre outras. Vamos agora também começar um projeto relacionado com a doença de Alzheimer, que acreditamos ser muito interessante. Este é um projeto europeu Erasmus+, que vai teve início recente com a primeira reunião em Florença. Este será certamente um projeto com todo o interesse para a comunidade, para o país e para a Europa.
Na área das engenharias e aeronáutica, sobretudo na área da Engenharia, temos projetos – que surgiram em parte através de um antigo acionista – que fez com que esta área se desenvolvesse. A Atlântica faz também parte do cluster aeronáutico português, AED, e conta com várias parcerias de entidades e empresas na área dos compósitos e, claro, da aeronáutica. Neste âmbito, privilegiamos muito a relação com a indústria e empresas do setor, para que os alunos possam contar já com uma componente prática, em fábrica, quando deixam a instituição de ensino e vão procurar o mercado de trabalho.
Possuímos ainda várias atividades e projetos com a Comissão Municipal de Saúde de Oeiras e com a vereação com os pelouros da ação social e da saúde. Temos um projeto financiado PT2020, o BE4YOU, no qual criámos uma plataforma online que vai permitir dar apoio a pessoas com patologias como a diabetes, colesterol, entre outras.
Em junho, por exemplo, parte dos nossos alunos de engenharia foram estagiar à FIDAMC -Airbus, em Madrid, durante uma semana. Este tem sido um projeto que fazemos todos os anos e que lhes permite estar em contacto com mais equipamentos, tecnologia e investigação.
Para concluir, na área da inclusão e do apoio à formação e à capacitação de professores e de formadores temos vários projetos Erasmus+. A título de exemplo, recebemos no final de maio e início de junho vários investigadores internacionais devido a três projetos que estão de momento a decorrer. Acreditamos que vai ser muito interessante para a comunidade e, inclusivamente, para a região, uma vez que vamos poder divulgar mais sobre Oeiras, a Atlântica, e, claro, a Fábrica da Pólvora.
Quais são os objetivos da Atlântica para um futuro próximo? E a longo prazo?
O desenvolvimento da Escola de Saúde. Queremos mais licenciaturas, mais mestrados e, a um curto e médio prazo, ter os requisitos necessários para vir a propor um Instituto Politécnico na área da Saúde. Já ganhámos massa crítica suficiente. Um corpo docente fantástico de doutorados que fazem investigação em Saúde. E temos muitos diplomados que nos pedem mesmo isso, que tenhamos mais mestrados – só temos ainda um em Enfermagem de Reabilitação. O Curso de Pós-Licenciatura de Especialização em Enfermagem Comunitária foi agora acreditado pela Agência e aguardamos registo na DGES/MCTES. A área da saúde é, portanto, uma das áreas de aposta estratégica.
Na área da saúde temos também muitas pós-graduações. E essas representam uma resposta imediata a uma necessidade sentida nas unidades de saúde, na investigação e na inovação. Um dos cursos de pós-graduação que conta já com 27 edições é na área de Emergência, a PG em Doente Crítico, que faz parte das pós-graduações mais procuradas e com muitas edições de sucesso. A curto prazo é realmente este desenvolvimento que vamos querer atingir. Queremos conseguir dar esse passo em frente, com ainda maior ligação à comunidade, algo que para nós é fundamental.
Na área da segurança, temos a licenciatura de Gestão, Emergência, Segurança e Proteção Civil, uma licenciatura que criámos há três anos e que terá agora os primeiros diplomados. Achamos fundamental impulsionar esta área pela necessidade que o País sente, tal como outros países europeus, sendo que esta área não está tão desenvolvida como poderia. Queremos avançar também com a investigação, com um mestrado e com parcerias, e, portanto, esta é uma área muito importante para nós e para o país.
A área das engenharias está também entre as mais pertinentes. No caso da aviação, por exemplo, a Covid-19 veio prejudicar seriamente este setor e o seu desenvolvimento. No entanto, é expectável que o apoio do Plano de Recuperação e Resiliência e o financiamento proveniente de fundos estruturais, coloque o setor da aviação no centro destes investimentos. Esperamos que o país saiba responder a esta necessidade da indústria aeronáutica e das engenharias, pois em outros países, como Espanha – os nossos maiores acionistas são espanhóis –, esta é uma área que está mais desenvolvida ao nível da indústria. Mas Portugal tem todas as competências e, inclusivamente, empresas preparadas para fazer esse desenvolvimento.
Procuramos ter alunos internacionais. Aliás, a Câmara está a ajudar-nos nisso, sobretudo ao nível do alojamento para estudantes, aqui mesmo neste campus.
O e-learning, não podia deixar de referir, também vai ser parte do nosso futuro. Enquanto outros países já se mostravam bastante adiantados nesta área, este era um cenário pouco provável de acontecer em Portugal até há bem pouco tempo – até porque não havia legislação. E na Atlântica também queremos dar esse salto qualitativo e quantitativo. Já temos algumas pós-graduações em formato e-learning e a pandemia acabou por nos fazer correr nessa direção e tirar daí as skills que são fundamentais ter. Skills e não só. Não se trata só da capacitação dos professores e dos técnicos. É necessário também o equipamento, obviamente, as instalações adequadas e o desenvolvimento de currículos, algo que é fundamental para podermos estar mais preparados para o ensino à distância, que nos tornará mais internacionais.
Procuramos ter alunos internacionais. Aliás, a Câmara está a ajudar-nos nisso, sobretudo ao nível do alojamento para estudantes aqui mesmo, neste campus. Recebemos com regularidade alunos franceses, este ano mais de 180. E alguns alunos italianos e também espanhóis, mas em menor número. É por isso que a criação de uma residência de estudantes é tão necessária. Para que os alunos não tenham que ir para Lisboa. Este é um projeto que está em candidatura e que esperamos que se resolva rapidamente, porque essa necessidade de alojamento é sentida, e a internacionalização é também o futuro das universidades privadas em Portugal. Sabemos que os jovens são cada vez menos e, apesar de apostarmos muito nos maiores de 23, para que possam adquirir competências e evoluir profissionalmente, com uma licenciatura ou um mestrado, obviamente precisamos de mais alunos. A internacionalização é, assim, um fator importante para nós. Os portugueses têm na generalidade um bom nível de inglês, incluindo todos os nossos professores, que podem dar aulas em inglês. Esta facilidade que existe em Portugal traz vários privilégios também na formação a distância, especialmente para países que não têm condições favoráveis.
Na sua opinião, quais são as grandes vantagens competitivas de a Atlântica estar localizada no concelho de Oeiras?
O campus é fantástico e dificilmente teríamos um património histórico, cultural e ambiental tão valioso como este. Essa é de facto uma das mais-valias que temos em estarmos aqui: a localização, tão próxima de Lisboa, num espaço tão tranquilo e acolhedor, com o mar tão perto para os nossos estudantes. Inclusive, criámos agora uma pós-graduação em surf. Os nossos fisioterapeutas, professores e investigadores têm estado a fazer estudos sobre os atletas de ondas gigantes da Nazaré. A pós-graduação vem nesse seguimento: estuda as lesões causadas por esse desporto. É um projeto curioso, interessante e inovador em Portugal.
Temos também muitas outras vantagens nesta parceria com a Câmara Municipal de Oeiras. A começar pelas bolsas de estudo para os alunos, por exemplo, na área da proteção civil. A Câmara Municipal de Oeiras tem contribuído bastante na criação de oportunidades para que bombeiros e outros profissionais ligados à segurança ou emergência e proteção civil possam ter uma licenciatura. Ao longo destes 25-26 anos de história, o Município proporcionou aos seus funcionários a possibilidade de estudarem, com boas condições, numa universidade que fica no concelho. A Atlântica atualmente e no âmbito de um protocolo de colaboração também dá bolsas de estudo aos alunos do município em algumas licenciaturas. Temos protocolos de parceria com várias instituições ligadas a Oeiras. Fomentamos assim esta relação de proximidade com a comunidade, fomentamos sinergias, que apenas é possível com o apoio da Câmara de Oeiras.
A Atlântica atualmente e no âmbito de um protocolo de colaboração também dá bolsas de estudo ao município em algumas licenciaturas. Temos protocolos de parceria com várias instituições ligadas a Oeiras. Fomentamos assim esta relação de proximidade com a comunidade, fomentamos sinergias, que apenas é possível com o apoio da Câmara de Oeiras.
Participamos em festivais, como o FIC.A – Festival Internacional de Ciência -, que se iniciou no ano passado aqui em Oeiras. Também temos uma ligação com a comunidade escolar de Oeiras, onde conseguimos fazer chegar as várias áreas que são intrínsecas à Atlântica e que são importantes quer para os professores quer para os estudantes das escolas secundárias. Estamos num programa que é a Happy Schools, com a DGAE, um programa de formação de professores para criarmos happy schools (escolas felizes) neste país. É um projeto que já existe noutros países da Europa e que queremos disseminar e divulgar em mais escolas.
Que contributos tem dado a universidade no combate à pandemia e em áreas como a educação e investigação, que desempenham um papel importante para a sociedade? E agora, se tem dado contributos relativamente à crise na Ucrânia?
Quando a pandemia da Covid-19 avançou, um grupo de professores da Atlântica começou a desenvolver um projeto que, entretanto, passaram a ser dois, três projetos, na área do barómetro social ou do bem-estar e da saúde. Todos eles relacionados com a Covid-19. Estes projetos estão no nosso site inclusivamente. São projetos que continuam a recolher dados para uma melhor investigação. Também por parte dos nossos alunos tivemos pedidos de ajuda, sobretudo no âmbito dos estágios. Enfim, fizemos várias campanhas e continuamos a fazer rastreios e apoio à comunidade em geral nas áreas mais ligadas à saúde e ao bem-estar.
Relativamente ao conflito existente na Ucrânia, os nossos estudantes – quer de Proteção Civil quer de Engenharia Aeronáutica – têm prestado apoio em atividades levadas a cabo pelo Município, relacionadas com o acolhimento a famílias ucranianas que chegam a Portugal. O nosso núcleo de estudantes é bastante dinâmico, pró-ativo e muito consciente dos problemas que envolvem uma sociedade e, por isso mesmo, a responsabilidade social corporativa e o voluntariado são atividades bastante comuns e transversais a toda a comunidade estudantil da Atlântica.
Ainda neste âmbito, demonstramos interesse em receber estudantes oriundos da Ucrânia, com interesse em adquirir formação superior, na nossa instituição. E já começamos a ter solicitações. A questão aqui passa precisamente pelo apoio que podemos dar a estes estudantes. Juntamente com a Junta de Freguesia de Barcarena, e no âmbito do Conselho Local de Apoio Social (CLAS), estabelecemos uma série de atividades que vão permitir a recolha de bens para ajudar famílias mais carenciadas de refugiados recém-chegadas ou para aquelas que ainda estão por chegar. Uma vez mais com a AeroAtla, núcleos de estudantes e a Associação Académica, e em regime de voluntariado, estão também a ser desenvolvidas atividades de recolha de bens.